O tempo úmido sob fortes ventos frios, com muitas gaivotas a sobrevoarem no céu, dava um aspecto portuário ao velho centro de Dublin. As pontes se preenchiam com um fluxo constante de pedestres, e, quando o dia finalmente caía, as luzes e o ânimo dos bares ao redor do Temple Bar se espalhavam pelas ruas com a folia da cidade. Sentia-me livre para andar pelos pontos turísticos, perder-me em direções erradas do mapa e vislumbrar a cena cotidiana local.
Finalmente, entendi o porquê de arco-íris ocorrerem tão frequentemente na Irlanda: o tempo chuvoso me permitiu avistar dois ou três deles despretensiosamente, com a condição de observá-los como quem admira a beleza efêmera e, de repente, indaga-se onde estaria o famoso pote de ouro ao final do percurso colorido. O meu sonho de conhecer a Irlanda surgiu a partir da história de Connell e Marianne. Eu percorria avenidas, parques e até mesmo o célebre Trinity College, a fim de encontrá-los e viver, assim como na série, uma história de amor impulsiva. Ainda, a breve jornada me permitiu conhecer as falésias de Moher, as quais somente as vendo com os próprios olhos para acreditar que algo desta dimensão existe, e, portanto, se surpreender com a possível imensidão da natureza. Lá de cima, a ventania era forte, ao ponto de ser carregado pela rajada de vento e de as mãos doerem de frio. Não me importava: o cenário pitoresco anestesiava qualquer incômodo aparente.
O quê eu guardarei de Dublin é igualmente o episódio do meu retorno ao aeroporto. Uma longa caminhada às quatro da manhã até a parada de ônibus, preenchida com o silêncio da noite interrompido pelo suave barulho da garoa e dos pássaros madrugadores. Eu atravessa bairros residenciais, pequenas quadras e ruas meramente movimentadas, ainda na escuridão. Com os meus próprios pensamentos, enfim celebrava: o último dia do ano recém começara, e de modo bastante especial.
originalmente de 06.01.2023